Certo dia
voltando do trabalho depois de um dia exaustivo e de alguns estresses
rotineiros, embarquei no “ônibus nosso de cada dia” e como acontece todos os dias,
religiosamente, vim em pé.
Assim como
todo mundo quando entra num “TREL” que não tem lugar, procurei logo uma cadeira
(ocupada!) pra encostar o bumbum e descançar -
embora quando estou sentado detesto quando alguém faz isso na minha
cadeira (também tenho meus monstros!). Escolhi o meu lugar de descanso e ali
fiquei.
Foi quando
percebi uma mulher sentada com seus dois filhos. Um menorzinho e outra com seus
quatro anos de idade. A mãe com muitas coisas para se preocupar (pois estava
com duas crianças e com varias bolsas) já estava com a paciência beirando o
fim, até por que ficar com duas crianças traquinas e três bolsas numa cadeira
só não é fácil. Foi quando a menina, que era mais velha do que seu irmãozinho,
saboreava um pacote - já no final - de biscoitos de polvilho. Não se
contentando com aquela porção que já findava, ela passou a apreciar os farelos
que, na opinião da mãe, demorava muito a acabar.
Com
a paciência esgotada e incomodada com o “lambe-lambe” de dedos e com o barulho
indiscreto que isso fazia, a mãe pegou firmemente no finíssimo braço da
primogênita, olhou profundamente naqueles olhinhos redondos, cerrou os dentes e
falando entre os lábios, disse:
- Você está passando fome?! –
perguntou enfurecida.
Ora! Partindo
do princípio que “passar fome” significa “estar privado de alimentação por um
período regular de tempo” – mas que uma criança de quatro anos não entende isso
– a indagação de sua colérica mãe teve o significado simples de: Tá com fome
meu amor? A resposta não poderia ser outra. Balançando a cabeça para cima e
para baixo com toda inocência do mundo ela disse:
- Sim!
Como quem não acreditava no que
estava ouvindo e vendo, a mãe precisava confirmar aquilo.
- Você está passando fome?! - Perguntou
novamente ansiosa por uma resposta negativa.
A criança,
agora sem muita certeza, não ousou mais falar, ficando apenas com um tímido
gesto de afirmação com sua cabecinha já confusa. Mas não desistiu de sua
resposta. Foi aí que sua mãe usou daquela velha, mas eficaz tática de chamar o
filho pelo nome completo, quando a perda do controle da situação é iminente.
- fulana, você
está passando fome?! - Era a última chamada. Depois daí talvez viesse algum
tipo de “safanão”.
Pobre
criancinha! Naquele momento o seu limitado conceito moral de certo ou errado
estava em frangalhos.
- Ué! A resposta não pode ser “sim”?
- deve ter pensado.
- Então eu vou mentir, vou dizer que
não. Talvez minha mãe fique feliz! - Era o que, sem palavras, expressava seu
rosto.
Sacudindo a
cabeça de um lado para o outro, aquela menina estava no ápice de um conflito
interno (talvez o primeiro de muitos na sua vida) onde aquela a quem ela devia
obediência, dizia, em outras palavras, pra ela ir de encontro a um instinto
simples e muito claro para a pobrezinha: Ela tinha fome, mas precisava dizer
que não.
Assistindo a
essa cena de camarote, não pude deixar de me lembrar das muitas vezes em que as
pessoas são compelidas a irem de encontro a verdades óbvias, apenas porque a
maioria diz que é o comum. Por exemplo! De repente você descobre que o que
Jesus ensinava era: servidão, humilhação, renúncia, amor ao próximo e
inconformismo para com o pecado. Olhando pra Jesus nós temos a certeza que isso
é verdade. Mas quando a maioria diz que isso é “balela”; que esse tipo de
interpretação está ultrapassada e que Jesus veio pra satisfazer um punhado de
crentes predestinados a receber os favores de Deus para com sua situação
financeira egoísta, tendemos a duvidar se Jesus era aquilo mesmo que a história
diz que ele era. Viver a simplicidade?
Está fora de cogitação! Dizem eles.
Aí é quando o
caminho se bifurca.
- Esquerda ou direita? Pra onde devo ir? Ah! Quer saber? Talvez eu vá por onde a maioria está indo. Só assim não desagradarei ninguém e terei o apoio da maioria. Mesmo que a fome de ser semelhante ao mestre seja latente, vou ignorar esse impulso. Pois talvez não seja fome. Quem sabe é só um delírio de uma mente infantil que pensa saber alguma coisa. Afinal de contas, esse biscoito de polvilho não ia me satisfazer mesmo; minha mãe – a multidão – é quem sabe das coisas, se ela diz que não, é não! Sacrificarei meus instintos em nome da ordem e da boa reputação - é o que dizemos. Triste ilusão!
- Esquerda ou direita? Pra onde devo ir? Ah! Quer saber? Talvez eu vá por onde a maioria está indo. Só assim não desagradarei ninguém e terei o apoio da maioria. Mesmo que a fome de ser semelhante ao mestre seja latente, vou ignorar esse impulso. Pois talvez não seja fome. Quem sabe é só um delírio de uma mente infantil que pensa saber alguma coisa. Afinal de contas, esse biscoito de polvilho não ia me satisfazer mesmo; minha mãe – a multidão – é quem sabe das coisas, se ela diz que não, é não! Sacrificarei meus instintos em nome da ordem e da boa reputação - é o que dizemos. Triste ilusão!
É fato que
nossas escolhas estão diretamente ligadas aos resultados futuros de nossa
trajetória. Sabendo que elas – nossas escolhas – serão provadas e medidas com
critérios divinos no final, fica na consciência a velha máxima que diz: “o que
se planta, colhe!”. Talvez aquela mãe tenha entendido esse princípio de uma
forma prática, quando se achou no meio da aflição de limpar com uma minúscula toalha, o vômito do
pequenino caçula que, devido a agitação da viagem, se derramara de suas entranhas por sobre aquela família, deixando
um cheiro impregnado na sua mãe e um sentimento arrependido de: “só acontece comigo está M...#!*$@!”
Eduardo Alexandre
Este relato sobre a crinça retrata em muito nossa sociedade, estar sobre pressão e ter que mentir sobre uma pergunta qualquer, infelismente esta enraízado em nossa cultura, a maioria das pessoas se acustumaram a estarem oprimidas e não colocam suas opiniões com receios de não serem entendiadas.
ResponderExcluirConhecendo a Jesus adquirimos uma certa ousadia em andar na contra-mão desta geração. Olhando para o passado, precisamente para os profetas, discipulos e seguidores de Jesus, vemos pessoas perseguidas, rejeitadas e mal compreendidas. Pessoas marginalizadas pelo simples motivo de defenderem o amor e a igualdade.
ExcluirGostei muito , que Deus continue te iluminando para escrever e transmitir a verdade , que é Cristo !!!
ResponderExcluirCris, que bom você ter entendido esse post (embora prefiro quando alguém critica, rsrsr). Verdade é aquilo que Deus é; é a expressão exata do pai; é a manifestãção de Deus com seus atributos (muitas vezes incompreenssíveis); verdade é o que era antes de tudo existir. A verdade é Jesus!
ExcluirTambém já presenciei cenas parecidas como a descrita acima, mas nunca tinha interpretado dessa forma.. e realmente faz mt sentido.
ResponderExcluirSe a mãe da criança tivesse a oportunidade de ler este texto, provavelmente agiria d forma diferente... ou, quem sabe, aprenderia a importância de sermos 'como uma criança'.
Mais uma experiência que edifica!
Muitas Vezes,as pessoas preferem ir contra o que acham certo por medo de serem julgadas,Particularmente já passei por varias situações que exigiram de mim a mentira ou a omissão e quando criança também já disse coisas que não eram verdade só por ser o que meus pais queriam ouvir. Hoje retiram de nós o direito de ser quem somos.
ResponderExcluirVerdade }Carol, no geral todos nós temos uma inclinação a fazer apenas aquilo que agrada os outros. Tudo isso pra não sermos excluídos da maioria ou apontado como estranho. Jesus nos ensina que o fato de nós o seguirmos não nos colocará mas no roll da "maioria". Pois o amor não é um sentimento muito comum ultimamente.
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