Não deixe o samba morrer!


O samba não chegou pronto. Veio em forma de ritmos africanos, foi se moldando ao longo dos tempos até se tornar a música oficial do Brasil.
            Logo depois da abolição da escravatura, muitos negros alforriados, de várias partes do Brasil, principalmente da Bahia, foram chegando e se instalando no centro do Rio de Janeiro. Festeiros como eles só, esses baianos continuaram a tradição de passar dois, três dias sambando, comendo e bebendo. Depois dormiam e acordavam para sambar mais, comer mais feijoada e beber mais, como se fosse uma “rave” do samba. O samba de roda baiano misturava lundu, um gênero musical de origem africana, ao batuque dos escravos de angola. Depois veio a influência do maxixe dando origem assim ao samba maxixado, típico das rodas de samba da casa da Tia Ciata, berço do samba carioca no começo do século 20. Essa baiana adepta dos cultos afro-religiosos e festeira como ela só, promovia as rodas mais agitadas da cidade.
            Estava tudo indo muito bem com as rodas de samba no centro rio, até que o prefeito Pereira Passos ordenou que todos os ocupantes dos cortiços – negros em sua maioria – fossem transferidos para os morros nos arredores da cidade nova. Foi aí que o samba pediu passagem e subiu o morro pela primeira vez.
            O samba teve um importante aliado, o rádio, que em 1922 deu a voz ao novo estilo com as músicas de Noel Rosa e Ari Barroso. Assim, ao mesmo tempo em que o samba se tornava uma expressão musical urbana e moderna, ele ia se espalhando pelos morros cariocas pelas ondas curtas do rádio. Hoje o samba desceu o asfalto contagiando ricos e pobres, pintando assim a face do nosso país em qualquer lugar do planeta.

Como era de se esperar essa forma de expressão musical da cultura brasileira está, ainda de maneira muito discreta, se infiltrando nos altares das várias religiões do Brasil. Dentre as religiões conhecidas que aos poucos se rendem ao “batuque do samba” está o Cristianismo. Embora os mais conservadores optem por rejeitá-lo, os mais jovens se abrem cada vez  mais à influência musical de suas raízes.
Dentre os motivos que dificultam a aceitação do samba nos arraiais cristãos está sua origem. O fato do samba ter sua origem nos cultos afro-religiosos e principalmente ser uma expressão cultural dos negros daquela época, faz que grande parte dos cristãos o rejeitem como um ritmo de adoração a Deus – mesmo que adoração a Deus, não tenha nada a ver com ritmo musical – e desencadeie uma série de preconceitos para com seus simpatizantes.  Certamente, aqueles que cantam e compõem samba com teor sacro não concordam com esse pensamento, uma vez que deixaram o conservadorismo de lado e permitiram sua brasilidade fluir nas expressões de fé quando em seus ajuntamentos.

Hoje, já podemos ver e ouvir as verdades do evangelho de Jesus sendo cantadas nas rodas de samba, mesmo que de forma embrionária, Deus começa a ser exaltado ao som do cavaco, banjo, tamtam, pandeiro e outros instrumentos da cultura brasileira. Tenho pra mim que o mais conservador dos cristãos sente, lá no fundo da alma, ao ouvir um samba exaltando o Deus criador, um desejo incontrolável de dizer com a Igreja:  “CHORA CAVACO!”

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